Introdução
O ano de 2025 se configura como um período de intensificação na busca por soluções para o crônico subfinanciamento das instituições de saúde no Brasil, notadamente as Santas Casas [1] [2]. Essas instituições são pilares fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo responsáveis por uma parcela significativa dos atendimentos de média e alta complexidade [3].
A pactuação entre o poder público e as Santas Casas tem se manifestado em novas políticas e mecanismos financeiros, tanto em nível federal quanto regional, visando garantir a sustentabilidade dessas entidades e, consequentemente, a ampliação e a melhoria da assistência à população.
1. Prioridades Governamentais e Mecanismos de Pactuação
A análise das políticas implementadas em 2025 revela uma prioridade clara do governo em reduzir filas de espera e remediar o déficit financeiro das Santas Casas, reconhecendo a crise financeira que as afeta [1].
1.1. Nível Federal: O Programa “Agora Tem Especialistas”
O Ministério da Saúde, por meio do programa “Agora Tem Especialistas”, estabeleceu um mecanismo inovador de pactuação que utiliza o crédito financeiro como contrapartida à prestação de serviços especializados ao SUS 2.
| Aspecto | Detalhes da Política Federal (Julho/2025) |
| Mecanismo | Credenciamento de hospitais filantrópicos e privados para atender o SUS em troca de crédito financeiro [2]. |
| Finalidade do Crédito | Abatimento de dívidas com a União (PGFN ou Receita Federal) ou de débitos futuros [2]. |
| Prioridades do SUS | Seis áreas-chave para redução de filas: Oncologia, Ginecologia, Cardiologia, Ortopedia, Oftalmologia e Otorrinolaringologia [2]. |
| Incentivo Financeiro | Limite de R$ 2 bilhões/ano em créditos. Condições diferenciadas para Santas Casas: parcelamento em até 145 meses com 70% de desconto [2]. |
| Objetivo Estratégico | Mobilizar a rede privada e filantrópica para desafogar o sistema público em áreas de alta demanda e complexidade [2]. |
Este modelo representa uma tentativa de transformar o passivo fiscal das instituições em ativo assistencial, vinculando a regularização de dívidas à ampliação da oferta de serviços em áreas críticas.
1.2. Nível Regional: O Exemplo da Tabela SUS Paulista
Em nível regional, o Estado de São Paulo demonstrou uma prioridade em corrigir a defasagem histórica da Tabela SUS nacional por meio de recursos próprios, o que é um indicativo de que a sustentabilidade financeira das Santas Casas é uma prioridade regional [3].
| Aspecto | Detalhes da Política Regional (São Paulo – Agosto/2025) |
| Programa | Tabela SUS Paulista [3]. |
| Mecanismo | Complementação dos valores pagos pela tabela nacional do SUS com recursos do Tesouro Estadual [3]. |
| Impacto na Remuneração | Aumento da remuneração em até cinco vezes em procedimentos prioritários (ex: diária neurológica/oncológica/cardiovascular de R$ 70,61 para R$ 235) [3]. |
| Prioridades Regionais | Foco em procedimentos com maior demanda e onde as filas estão maiores, como cirurgias eletivas [3]. |
| Resultado | Ampliação do número de hospitais contemplados (de 354 para 800) e aumento da resolutividade cirúrgica [3]. |
O sucesso da Tabela SUS Paulista, que resultou em um aumento significativo na receita das Santas Casas e na redução de filas de espera, estabelece um modelo de referência para outras unidades da federação que buscam soluções para o subfinanciamento [3].
2. Contribuição das Santas Casas na Assistência à Saúde
As Santas Casas e hospitais filantrópicos são vitais para o SUS, atuando em diversas frentes, desde o atendimento ambulatorial até cirurgias de alta complexidade [4].
2.1. Cirurgias e Procedimentos de Alta Complexidade
A principal contribuição dessas instituições reside na realização de cirurgias e procedimentos de alta e média complexidade, que são essenciais para a resolutividade do sistema.
- Cirurgias: A Santa Casa de Franca, por exemplo, conseguiu zerar a fila de cateterismo cardíaco e expandir o acesso a procedimentos eletivos de alta e média complexidade após a implementação da Tabela SUS Paulista [3]. Em outro exemplo, a Fundação Santa Casa do Pará realizou 6.130 cirurgias (adulto e infantil) em 2024, demonstrando o volume de procedimentos de alta complexidade que dependem dessas instituições [4].
- Percentual de Atendimento: As Santas Casas são responsáveis por 50% de todos os atendimentos de saúde no estado de São Paulo, evidenciando sua relevância sistêmica [3].
2.2. Atendimento Ambulatorial e Especializado
Além das cirurgias, as Santas Casas mantêm uma vasta rede de ambulatórios e serviços especializados, que são cruciais para o acompanhamento de doenças crônicas e o diagnóstico precoce.
•Volume de Atendimento: A Santa Casa de São Paulo realizou 519 mil atendimentos ambulatoriais em 2024, além de 215 mil atendimentos de urgência pelo pronto-socorro, todos exclusivamente pelo SUS [3].
•Foco nas Prioridades: As seis áreas prioritárias do programa federal (“Agora Tem Especialistas”) — Oncologia, Ginecologia, Cardiologia, Ortopedia, Oftalmologia e Otorrinolaringologia — são justamente aquelas em que as Santas Casas possuem expertise e capacidade instalada para desafogar o sistema [2].
Conclusão
A pactuação entre Santas Casas e o poder público em 2025 é marcada por uma abordagem pragmática e financeiramente inovadora. As prioridades governamentais, tanto em nível federal (redução de filas em seis especialidades e uso de crédito financeiro para quitar dívidas) quanto regional (complementação da Tabela SUS para garantir a sustentabilidade), convergem para o reconhecimento da função estratégica das Santas Casas.
Essas instituições não apenas complementam o SUS, mas são a espinha dorsal da assistência de média e alta complexidade, especialmente em cirurgias e atendimentos especializados. A continuidade e a expansão de mecanismos de financiamento mais justos e adequados à realidade de custos, como a Tabela SUS Paulista, são cruciais para a manutenção da qualidade e da capacidade de resposta do sistema de saúde brasileiro. O desafio para os próximos anos será replicar esses modelos de sucesso em todo o território nacional, garantindo que a crise financeira crônica não comprometa a vital contribuição das Santas Casas para a saúde pública.
Referências
[1] Gestores relatam subfinanciamento em Santas Casas – Senado Federal


