Introdução
Com tantos burburinhos nas redes sociais nos últimos dias, influenciadores e empreendedores se perguntam: “como estão as vendas”? Vamos analisar o desempenho das vendas no varejo brasileiro em outubro de 2025, abrangendo e-commerce, marketplaces e lojas físicas. Vamos identificar se houve uma retração nas vendas durante este período e explorar os fatores que podem ter contribuído para tal cenário.
Desempenho Geral do Varejo
O cenário do varejo brasileiro em outubro de 2025 apresenta-se misto e complexo, com diferentes tendências observadas entre os canais de venda. A questão central sobre uma queda generalizada nas vendas em outubro não pode ser respondida de forma simplificada, pois os dados mostram nuances importantes.
De acordo com o IBGE, o volume de vendas do varejo cresceu 0,2% em agosto de 2025 na comparação com julho, marcando a primeira alta mensal após quatro meses consecutivos de queda. No acumulado do ano até agosto, o crescimento foi de 1,6% [1]. Este dado sugere uma leve recuperação após um período de retração, mas ainda com um ritmo desacelerado em comparação com o início do ano.
Em setembro de 2025, o varejo brasileiro registrou uma queda real de 0,2% (descontada a inflação) em comparação com o mesmo mês de 2024, conforme reportado pela Acelera Varejo. Contudo, o avanço nominal foi de 4,3%, indicando que, embora o faturamento bruto tenha aumentado, o poder de compra do consumidor foi corroído pela inflação [2]. O segmento de bens duráveis e semiduráveis foi o mais afetado, enquanto o setor de serviços, impulsionado por turismo e transporte, demonstrou crescimento [2].
Vendas Online (E-commerce e Marketplaces)
O setor de vendas online demonstra uma trajetória de crescimento robusto e sustentado. A FGV IBRE revelou que, no terceiro trimestre de 2025, a participação das vendas online no volume total do comércio atingiu 18,7%, um aumento de 1,3 ponto percentual em relação ao trimestre anterior e 4,8 p.p. em comparação com o mesmo período de 2024. Este patamar é um dos maiores da série histórica, mantendo-se acima de 17% de participação desde o primeiro trimestre de 2025 [3].
O crescimento do e-commerce em setembro foi ainda mais vibrante, com um aumento nominal de 6% [2]. Este avanço contínuo do canal online sugere uma migração de consumo e uma consolidação dos hábitos de compra digital, impulsionados pela conveniência, variedade e, muitas vezes, preços mais competitivos.
Lojas Físicas
Em contraste com o desempenho do e-commerce, as lojas físicas enfrentam desafios mais significativos. A semana do Dia das Crianças (6 a 12 de outubro de 2025), uma data tradicionalmente forte para o varejo físico, registrou uma queda de 1,9% na atividade do comércio físico em relação ao mesmo período do ano anterior, com uma retração de 1,2% no final de semana da data. A Serasa Experian atribuiu essa queda aos juros altos e à renda apertada dos consumidores [4]. Este resultado interrompe dois anos de variações positivas para a data, indicando uma cautela crescente por parte do consumidor em relação às compras presenciais.
Possíveis Motivos para a Retração (Onde Observada)
Os fatores que contribuem para a desaceleração ou queda nas vendas, especialmente no varejo físico e em segmentos específicos, são multifacetados.
A taxa básica de juros (Selic) em patamares elevados encarece o crédito, impactando diretamente a compra de bens duráveis e semiduráveis, que frequentemente dependem de financiamento. Isso reduz a disposição do consumidor para assumir novas dívidas [1, 4].
A persistência da inflação, mesmo que controlada, é mais fator a somar, e o comprometimento da renda das famílias limitam o poder de compra e o espaço para gastos adicionais. A queda real nas vendas em setembro, apesar do avanço nominal, é um reflexo direto desse cenário [2, 4].
Mais um fator da lista é a consolidação do e-commerce e dos marketplaces como canais preferenciais de compra indica uma mudança estrutural nos hábitos dos consumidores. Fatores como preço, frete acessível, confiança na loja e entrega rápida são decisivos para a compra online, e o desalinhamento entre as prioridades dos lojistas e as expectativas dos consumidores pode frear o crescimento em alguns segmentos [3].
A pesquisa da FGV IBRE também aponta que o medo de golpe ou fraude (42,5%) e a desconfiança na loja ou site (36,5%) são barreiras significativas para os consumidores no ambiente online, embora o e-commerce em geral esteja crescendo [3].
Por fim, a uma parcela considerável de empresários (26,2%) opta por manter suas vendas exclusivamente em lojas físicas, muitas vezes por uma decisão estratégica ou por acreditarem que seu produto não se aplica ao comércio eletrônico. Essa resistência ao digital, ancorada na visão de negócio, também contribui para a dinâmica entre os canais [3].
Conclusão
Em outubro de 2025, o varejo brasileiro não demonstra uma queda homogênea nas vendas. Pelo contrário, o e-commerce e os marketplaces continuam em forte expansão, consolidando-se como canais de preferência para muitos consumidores. A queda real nas vendas gerais em setembro e a retração no varejo físico durante o Dia das Crianças sugerem que os desafios estão concentrados principalmente nas lojas físicas e em segmentos mais sensíveis ao crédito e à renda disponível.
Os principais motivos para essa performance diferenciada são os juros altos, a renda apertada das famílias devido à inflação, e uma mudança contínua no comportamento do consumidor em direção aos canais digitais. Para o varejo físico, a necessidade de adaptação e de oferta de experiências que complementem ou superem as vantagens do online é cada vez mais evidente. As expectativas para a Black Friday e o Natal de 2025 indicam que o varejo precisará apostar em promoções agressivas, condições facilitadas e uma integração eficaz entre os canais físico e online para estimular as vendas e reverter as tendências de queda observadas em alguns setores.
Referências
[1] UOL Economia. Varejo volta a crescer após 4 meses, com alta de 0,2% em agosto. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/10/15/vendas-do-comercio.htm. Acesso em: 21 out. 2025.
[2] Acelera Varejo. Varejo Brasileiro Registra Queda Real Em Setembro De 2025, Mas Mantém Avanço Nominal De 4,3%. Disponível em: https://www.aceleravarejo.com.br/home-destaque/varejo-brasileiro-registra-queda-real-em-setembro-de-2025-mas-mantem-avanco-nominal-de-43/. Acesso em: 21 out. 2025.
[3] FGV IBRE. INDICADOR DE VENDAS ONLINE 3º trimestre de 2025. Disponível em: https://portalibre.fgv.br/system/files/2025-10/pressrelease-indicador-de-vendas-online-fgv-ibre.pdf. Acesso em: 21 out. 2025.
[4] Serasa Experian. Dia das Crianças 2025: atividade do varejo físico recua 1,9% na semana da data, mostra Serasa Experian. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/indicadores/dia-das-criancas-2025-atividade-do-varejo-fisico-recua-19-na-semana-da-data-mostra-serasa-experian/. Acesso em: 21 out. 2025.


